Minha História - Capítulo 1: Criando o site do Homem-Aranha
Esse ano completei 30 anos. Pois é, faço parte da geração dos anos 90. Desde criança sempre adorei ter minha família e amigos por perto, brincar, assistir desenhos e jogar videogame. Meus desenhos preferidos eram Pokémon, Digimon e Dragon Ball Z. Adorava jogar jogos de Super Nintendo e posteriormente Playstation 1 e 2 (não fui muito do Nintendo 64).
Nasci de uma família de classe média e apesar de termos dinheiro o suficiente para viver bem, não éramos afortunados. Por não ter sempre os melhores brinquedos lembro que desenvolvi desde cedo um senso de criatividade e imaginação. Lembro-me de como eu era capaz de criar cidades inteiras utilizando um frankenstein de LEGOS e de como eu criei um GameBoy de papelão onde eu inseria cartuchos de papel e criava o jogo na minha cabeça. Minha mãe é de São Vicente, litoral paulista e meu pai de São Lourenço da Serra, interior de São Paulo. Também me recordo de ir quase todos os finais de semana para a casa dos meus avós no interior e ter muito contato com mato, animais e o estilo caipira de se viver.
Tenho apenas um irmão que é 6 anos mais velho que eu. A diferença de idade fez que com gostássemos de coisas diferentes e experimentássemos estágios diferentes da vida. A coisa começou a se igualar um pouco mais após os meus 18 anos. Passei minha infância inteira vivendo em um apartamento de 60m2 no Jardim Ester, bairro localizado na zona oeste de São Paulo. Estudei na escola particular do bairro dos meus 5 anos até os 12, e considero que o início da adolescência foi um momento-chave da construção da minha jornada até onde estou hoje.
Meu pai tinha um emprego bom como gerente de vendas em uma empresa de duchas e chuveiros. Porém, por demandar muitas viagens e aliado a outros fatores, meu pai buscou outras oportunidades. Entretanto, sua idade avançada não colaborou muito para encontrar empregos tão bons quanto aquele. Essas mudanças fizeram com que nosso padrão de vida tivesse que ser diminuído e foi o momento onde tive que sair da escola particular que estudei minha infância inteira e ir para a pública para que pudéssemos conter alguns gastos.
Foi um momento bem desafiador na minha vida. Lembro que a qualidade de ensino não era a mesma, a infraestrutura da escola era péssima e o perfil dos alunos era totalmente diferente. Tive que entrar no meio do ano letivo e começar amizades do zero. Quem já mudou de escola sabe muito bem como é. Já não bastasse isso, para elevar o grau de dificuldade, acabei entrando junto com um menino que também vinha de escola particular, era 2 anos mais velho (ele havia repetido de série 2 vezes) e fazia bullying comigo. A perseguição em relação a mim foi tanta que meus pais tiveram que intervir e conversar com a sub-diretora da escola. Felizmente depois disso ele nunca mais me perturbou e alguns meses depois acabou saindo da escola.
Durante esse período de adaptações e desafios da escola pública, busquei refúgio em muitas coisas para conseguir vencer os meus problemas. Minha família e minha espiritualidade foram alguns desses refúgios essenciais, porém teve um que marcou muito: o aprendizado.
Nessa época, meu irmão estava trabalhando como programador web em uma empresa de tecnologia. Era também responsável por trabalhar no visual dos sites usando ferramentas como Photoshop, Flash e Corel Draw. A internet era algo que estava começando a se popularizar com bate papos (ICQ, MSN), portais (AOL, UOL etc), Email (Hotmail, Yahoo!) e a banda larga chegando para entregar uma experiência de navegação melhor. Tínhamos um computador em casa com o recém-lançado Windows XP, e meu pai foi um grande incentivador para que eu pudesse aprender algumas das coisas que meu irmão havia aprendido usando a internet e o computador como fonte de conhecimento.
Como todo pré-adolescente no começo queria passar a maior parte do tempo jogando jogos e navegando nos sites dos desenhos que eu gostava, porém meu pai me convidou a ir além: usar meu tempo no computador para aprender algo novo. Inspirado pelo meu irmão, comecei a aprender como desenvolver sites usando HTML. Aprendi muitas coisas em fóruns de internet, e-books e em um site chamado Kit.net, que na época possibilitava criar e hospedar sites de graça. Também li e fiz praticamente todos os tutoriais de Photoshop de um livro que meu irmão tinha. De todo esse conhecimento surgiu meu primeiro grande produto: o site do Homem-Aranha.
Meu site era incrível. Ele era preto no fundo (background-color: #000000), cheio de teias de aranha, com textos explicando quem era o Homem-Aranha e links para os melhores sites sobre ele da internet. O melhor de tudo era os inúmeros GIFs que coloquei no site, tornando-o super vivo e também um pouquinho lento (tá bom vai, beeem lento). Lembro que eu mostrei esse site para todas as pessoas que eu conhecia. Tinha muito orgulho do meu filhinho. A reação positiva das pessoas e suas dicas de como tornar o site melhor me incentivou muito a continuar. Foi um momento marcante para mim e esse site foi o que eu precisava para me dedicar mais a aprender sobre programação, fazer cursos de graça online e ler mais livros.
Até que o grande momento de teste chegou: meu primeiro frila.
Meu irmão estava ajudando um conhecido nosso com o site de sua empresa, porém o empresário precisava criar um pop-up (ahh a internet dos anos 90) e meu irmão estava super atolado com coisas para fazer em seu emprego formal.
Ele então me indicou e falou que eu conseguiria desenvolver o pop-up sob sua supervisão. Lembro que trabalhei horas e horas para criar o pop-up. Meu pai havia recém cancelado a banda larga (de novo para cortar custos) e estávamos à base da internet discada. Lembro-me que para subir o pop-up que eu tinha desenvolvido eu tive que esperar até a meia-noite (pois pagava 1 pulso só, quem lembra disso?) e apesar de algumas dificuldades técnicas eu consegui resolver e subir com sucesso (meu irmão, que deveria me supervisionar, já estava no décimo sono).
Trabalho entregue! Ganhei 70 reais! Tudo aquilo significava muito para mim e foi meu primeiro passo em direção a minha carreira profissional futura. Minha vida profissional estava só começando e eu estava muito animado.
O que aprendi com essas experiências
Cada momento da minha vida me ensinou algo. Fiz uma lista de alguns dos principais aprendizados que tive com as experiências vividas nessa fase da minha vida:
Encontrar soluções em meio aos desafios: Busque usar os problemas e dificuldades ao seu favor. A forma como reagimos aos desafios podem definir o quão felizes e bem-sucedidos seremos em relação à eles.
Encontrar prazer no aprendizado: Muitas vezes achamos que o aprendizado é algo trabalhoso e desafiador. Encontrei prazer no aprendizado ao usar coisas que eu gostava como um gatilho para aquilo. Me permiti conhecer coisas novas e encontrar um propósito no que fazia.
Dar o primeiro passo e mergulhar: Tudo que precisei foi dar o primeiro passo e mergulhar. Fui descobrindo um mundo que não sabia que existia. Quantas vezes queremos fazer algo e criamos pré-conceitos ou crenças em nossa cabeça de que não temos tempo, de que algo é muito difícil ou que não vale a pena. Quebrar essa barreira é o primeiro passo para algo novo que pode ser significativo em sua vida e você ainda não sabe.
Compartilhar com as pessoas: Compartilhe seus aprendizados e projetos com as pessoas. A reação delas, seja positiva ou negativa, pode te ajudar a ver coisas que você não estava vendo antes. Coisas que estão dando certo, coisas que podem melhorar e coisas que você pode buscar aprender mais.
Nunca é cedo ou tarde para aprender e começar algo novo: Seja com 12 anos ou menos, ou com 60 anos ou mais, nunca é cedo ou tarde para buscar aprendizado e desenvolvimento pessoal.
Agradecimento especial a pessoas que tiveram um papel importantíssimo nessa fase da minha vida: Meu pai João, minha mãe Leila e meu irmão Thiago.
Neste último capítulo da série sobre minha trajetória profissional, saiba como fui parar no Google, como foi mudança para a Califórnia e os desafios de lidar com o Inglês.