Minha História - Capítulo 5: Quando o design e a estratégia se encontram

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Após ficar 2 anos fora do ‘mundo real’ fazendo um trabalho voluntário em Brasília, voltei para o mercado para trabalhar como assistente de planejamento em uma das maiores agências de publicidade digitais de São Paulo. Como mencionei no post anterior, as pessoas que me indicaram foram decisivas para que eu conseguisse entrar, até porque, além do fato de eu estar longe do mercado por um tempo considerável, um outro fator pesou muito contra mim: a faculdade.

É muito comum ver universitários estagiando em agências de publicidade e muitos acabam sendo efetivados ou conseguindo um emprego fixo em outra agência após se formarem. Apesar de ter cursado 1 ano de publicidade e propaganda antes do trabalho voluntário, eu não sabia se conseguiria retomar o curso de onde parei, se conseguiria lidar com a jornada de trabalho de dia + faculdade a noite, e eu diria até mais: eu não tinha certeza se publicidade e propaganda era o que eu realmente queria cursar.

Eu estava com 21 (quase 22) na época, e o período que fiquei fora acabaram ‘comendo’ 2 ou 3 anos em que eu já teria cursado da minha graduação. Não me arrependo em nada do trabalho voluntário que fiz (costumo a dizer que ele foi a minha faculdade para a vida), mas tive que correr atrás quando retornei pro mercado. O ponto positivo é que é muito comum ver vários publicitários que nunca cursaram uma faculdade trabalhar em agências de publicidade.

Apesar de não ser algo decisivo, certamente a faculdade era algo que poderia colaborar muito para a minha vida educacional e profissional. Mas qual curso fazer?

Na F.biz, eu literalmente sentava do lado de professores. Profissionais incríveis do mercado que davam aulas em cursos e faculdades renomadas de publicidade. O fato de trabalhar com eles e de já ter trabalhado em agências grandes com clientes grandes me fez decidir não cursar publicidade e propaganda. Decidi então cursar algo que poderia complementar meu trabalho de planejador. Passei por áreas como psicologia e jornalismo, até chegar no Design. Foi amor à primeira vista. Eu já tinha conhecimento prévio de Photoshop e alguns conceitos básicos de design, mas o que realmente me encantou, além da parte visual, foi a parte conceitual. A habilidade que os designers têm de pesquisar, criar, estruturar um pensamento e apresentá-lo. Em 2012, me matriculei e comecei o curso de Design Gráfico na FMU.

Cursar Design Gráfico foi uma experiência incrível. Conheci amigos maravilhosos que tenho amizade até hoje e juntos fizemos projetos super interessantes e criativos. O mais marcante certamente foi o do Spotify, o nosso TCC. Tivemos a oportunidade de ir no Spotify em São Paulo e entrevistar a alguns dos profissionais de lá (na verdade, segundo eles, fomos os únicos alunos de universidade a conseguir isso). Fizemos uma estratégia completa de comunicação para a marca, passando por branding, design e criação de uma campanha que chamamos Heróis da Música. Esse período de aproximadamente 4 anos de estudo na universidade certamente colaborou muito para que eu desenvolvesse habilidades de design gráfico, design thinking e trabalho em grupo. Em 2015 me formei depois de longos anos pegando ônibus e metrôs lotados, chegando em casa às 23:00 e passando finais de semana fazendo trabalhos. Foi durante esse período que também que conheci minha querida esposa. Namoramos à distância por 1 ano antes de nos casarmos, então pode acrescentar algumas viagens de ônibus e avião extras nessa conta aí. Quando nos casamos ela também estava cursando faculdade, na área de Pedagogia. Conseguimos transferência para uma unidade que ficava há 5 minutos da minha, e durante os anos restantes pudemos voltar juntos para a casa a noite quando as aulas terminavam. Bonus points!

Nosso Dream Team, da esquerda para a direita: Lucas Lessa, eu, André Blasques, Bruna Alberice e Beatriz Balsalobre.

Nosso Dream Team, da esquerda para a direita: Lucas Lessa, eu, André Blasques, Bruna Alberice e Beatriz Balsalobre.

Algum tempo depois, enquanto eu trabalhava na F.biz e estudava na FMU, entrei no LinkedIn e percebi que alguém de uma agência chamada R/GA havia visualizado meu perfil. Sempre admirei a R/GA e os trabalhos que a agência fazia, portanto, como quem não quer nada, perguntei se eles estavam a fim de bater um papo. Fui lá, bati um papo e foi super legal. No momento eles não estavam procurando ninguém, mas definitivamente estavam com perspectiva de crescimento e contratação nos próximos meses. Durante 1 ano voltei para mais duas entrevistas, até que enfim acabei recebendo uma proposta formal. Em Abril de 2014, após quase 3 anos trabalhando e construindo toda a minha base de planejamento na F.biz, fui para a R/GA para aplicar e aperfeiçoar ainda tudo que estava aprendendo.

Minha jornada na R/GA foi de fato uma jornada de construção e muito aprendizado. No começo trabalhei dando assistência para projetos super inovadores para Samsung, Google e BTG Pactual. Como a agência ainda era pequena (e relativamente nova no Brasil), acabei ganhando em pouco tempo a responsabilidade de tocar um projeto super importante para o Google Brasil. Aquela era a minha chance de brilhar e coloquei todo o meu coração, esforço e conhecimento nesse projeto junto com o time. Foi um sucesso e foi aí que meu relacionamento com o marketing do Google começou. Após esse job, ainda toquei outros projetos para eles, sendo um deles super decisivo para que eu posteriormente migrasse para lá.

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Voltando para o tempo na R/GA, tive a oportunidade também de trabalhar com o Bradesco, no início do next, um banco digital criado pelo banco por volta de 2016/2017. Foi um período intenso, mas de muito aprendizado onde pude desenvolver inúmeras habilidades ao trabalhar com os times de mídia, analytics, UX, criativo e negócios. Criamos uma relacionamento muito legal com os profissionais do banco e praticamente vivíamos lá. De fato, trabalhei alocado na sede do banco em Osasco por 3 meses junto com alguns colegas da agência. Tínhamos uma sala só nossa e colávamos flows de jornada do usuário, pesquisas e várias idéias na parede. Também colamos um poster do Jimmy Page, guitarrista do Led Zeppelin e trouxemos uma caixa de som para ouvir rock enquanto trabalhávamos. Certa vez bateram na nossa porta e pediram para abaixar pois dava para ouvir na sala do lado. Sorry! :/

O processo de criação e desenvolvimento do banco foi incrível. Lembro-me de participar de sessões de ideação, workshops com funcionários do banco, pesquisas com consumidores e cheguei até a apresentar trabalhos para salas com vários executivos e funcionários do banco. Também tive oportunidade de apresentar trabalhos para o VP do banco e participar de uma reunião com todo o board, onde inclusive tivemos que usar terno e gravata. Um período incrível e certamente um dos mais marcantes da minha vida profissional.

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Mais alguns ‘fun facts’ durante esse período da minha vida:

  • Durante uns 6 meses durante os período total em que trabalhei na R/GA, tive o meu irmão como meu chefe. Ele trabalhou como Diretor de Planejamento e tocamos boa parte do projeto do next juntos. Sei que você deve estar imaginando como seria trabalhar com seu irmão ou irmã, ou algum parente. No meu caso, funcionou bem. Sempre tive meu irmão como mentor e aprendi a admirar ainda mais o seu trabalho. É claro que alguns almoços de família acabavam virando reunião de trabalho e caso eu tivesse qualquer problema com ele, eu só precisava falar para a minha mãe e estava tudo resolvido.

  • Em 2016 fiz minha primeira viagem internacional, para o Canadá. A escolha do país se deu pelo fato de que eu já gostava (e jogava) Hockey no Brasil além de estar começando a me apaixonar pela ideia de morar fora. Aproveitei a oportunidade para sondar o mercado de agências em Toronto e mandei email para cerca de 30 profissionais de planejamento da região. Dos 30, 11 me responderam e consegui marcar um papo rápido com todos eles. Foi uma experiência muito enriquecedora e congelante também. Ainda vou falar sobre isso aqui no blog.

  • Na R/GA também consegui realizar um sonho que sempre tive: uma banda de rock. Já havíamos feito um som informal durante os churrascos da agência, mas a festa de final do ano foi um ótimo pretexto para formalizar o projeto. O nome da banda? Os Nevrálgicos. O nome veio de uma reunião com um cliente que se referiu a uma fase do projeto como um ponto nevrálgico. Não sabe o que significa essa palavra? Dá um Google. Nossa setlist era essa aqui.

Como mencionei anteriormente, esse foi um dos períodos onde mais cresci profissionalmente e pessoalmente. Faculdade, casamento, mais responsabilidades no trabalho me fizeram aprender coisas que levo até hoje:

  • Busque conhecimento complementar: Quando eu retornei do meu trabalho voluntário de 2 anos eu tinha tudo para entrar na faculdade de publicidade e propaganda. Decidi cursar algo diferente, algo novo e que complementasse o que eu fazia, adicionando um diferencial. Busque dentro do seu campo de atuação, cursos ou conhecimento extra que você pode fazer e que pode trazer benefícios extras para a sua vida e carreira.

  • Quem faz a faculdade é você: Apesar da minha faculdade não ser uma das melhores do ranking e ter uma infraestrutura menos robusta, consegui aproveitar ao máximo e tirar muito da minha experiência lá, graças aos amigos que fiz e o conhecimento extra que busquei para aplicar nos meus trabalhos.

  • LinkedIn é uma ferramenta incrível: Foi quando alguém visualizou o meu perfil que uma oportunidade surgiu. Graças a essa plataforma eu consegui meu emprego na R/GA e entrar em contato com muitos planejadores do Canadá para bater um papo. Também uso a plataforma para expor os trabalhos que faço e saber o que está acontecendo no mercado. Use e abuse dessa plataforma (com sabedoria e bom senso sempre) e ela poderá te abrir muitas portas.

  • Paciência e razão e emoção ao planejar sua carreira: Lembro-me que fiz outras entrevistas na época que eu estava saindo da F.biz. Quase aceitei algumas propostas que eu não estava me sentindo confortável. Aprendi que qualquer movimentação que eu queria fazer na minha carreira precisava ser feita com razão + emoção (avaliando prós, contras e também usando o feeling). Também aprendi que precisava ter paciência e sempre pensar no impacto que aquela decisão faria no futuro. A trajetória é tão importante quanto o destino final.

  • A importância de Design: Aprendi que se todo mundo soubesse um pouco de design o mundo seria um lugar melhor. Recomendo que você busque aprender conceitos básicos de design, tanto a aplicação do lado visual quanto a aplicação pensamento de design. É uma área que deveria ser mais valorizada e que tem um impacto tremendo em nossa vida em todos os sentidos. Aprenda design!

  • Papos proativos: Em um dos posts anteriores eu falei sobre nunca negar um papo. Esse aprendizado é sobre proativamente buscar papos. Identifique pessoas que você admira ou que gostaria de se conectar e marque um papo para explorar coisas que você se interessa. Isso pode abrir portas e trazer um conhecimento que você nunca irá esquecer.

Agradecimentos especiais: Beatriz Balsalobre, André Blasques, Lucas Lessa, Bruna Albuquerque, Beto Bina, Fabiano Coura, Edson Sueyoshi, Karina Corchs, Renato Kaufmann, Tiago Franco, Saulo Rodrigues, Rafael Mansano, Marcio Garcia, Vicente Silva, Arthur Calefe, Marcia Aguirre.

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