Minha História - Capítulo 6: Google e minha Golden Gate Bridge
Frequentemente as pessoas me perguntam como eu fiz para entrar no Google. Nos últimos anos, a gigante da tecnologia tem crescido exponencialmente e sempre foi o destino desejado por muitos profissionais. Em grande parte dos casos, as pessoas entram através de programas de estágio ou indicação de amigos, somado ao fato de possuir a experiência necessária e adequada para a vaga. No meu caso, algumas dessas coisas certamente colaboraram para minha contratação, porém a forma como eu entrei contou com uma pitada extra de emoção. Explico.
Como mencionei no post anterior o Google era um dos clientes da agência que eu trabalhava e eu tive a oportunidade de atender a conta em alguns projetos tanto para B2C quanto para B2B. Depois de um tempo, fui realocado para trabalhar com outras marcas, porém acabei sendo chamado de volta para participar do planejamento de 2 projetos do Google. Eu diria que ambos os momentos onde atendi a conta foram chave para que eu pudesse eventualmente ir para lá no futuro. Um desses projetos foi o YouTube Insights: um livro físico com diversos insights sobre a plataforma construído com base em pesquisas quantitativas e qualitativas de como as pessoas consumiam a plataforma dentro de 5 categorias: Música, Gastronomia, Gaming, Moda & Beleza e Futebol. Minha colaboração foi através da construção de um pensamento de como transformar os dados coletados em insights valiosos para marcas e anunciantes. O outro projeto foi o Brandcast: um evento anual feito pelo YouTube para apresentar para um público seleto de anunciantes como a plataforma está mudando comportamento e cultura, e como eles podem fazer parte dessa onda. Para esse projeto, fui trabalhar alocado no Google e durante um período de alguns meses, mostrei meu interesse em trabalhar lá e consegui uma oportunidade através de um contrato temporário na área de marketing.
Atribuo minha entrada no Google não só a esses dois projetos, mas acredito que a construção da minha carreira como um todo e o trabalho que fiz em todos os lugares que passei foram o que construíram essa base sólida para que quando a oportunidade chegasse eu pudesse agarrar.
Por que costumo dizer que minha ida para o Google foi com uma pitada extra de emoção?
Lembro que duas coisas colocaram em xeque a minha decisão: 1) minha esposa estava grávida do nosso primeiro filho e aquele era um contrato temporário de 9 meses, sem garantia de contratação após o término. 2) eu estava enfrentando o dilema agência vs cliente. Trabalhei minha vida profissional inteira em agência e construí uma carreira sólida na área, podendo inclusive conseguir uma vaga melhor em outra agência. Porém, a rotina de trabalho era insana e não estava disposto a estar ausente da minha família por causa de trabalho. Em contrapartida, trabalhar no lado do cliente seria uma experiência nova para mim e, apesar de ter skills de estratégia, nunca havia trabalho na área de marketing e não tinha certeza se iria me adaptar bem. Felizmente, decidi pular de cabeça no desafio e confiar no meu instinto e potencial. 6 meses e algumas entrevistas depois fui contratado como Associate Product Marketing Manager no Google Brasil. :)
Como eu havia previsto, tive que passar por uma curva de aprendizado sobre como trabalhar no marketing. O bom é que essa curva de aprendizado foi rápida e em poucos meses eu já estava conseguindo acompanhar o ritmo. Coisas como administrar budget, desenvolver briefings, se alinhar com outras áreas da empresa, criar uma estratégia de canais, avaliar os criativos, entre outras tarefas foram se tornando cada vez mais natural. Trabalhei durante 1 ano e meio no marketing B2B, na criação de eventos, conteúdos e campanhas para grandes agências e anunciantes. Depois disso, migrei para a área de Brand & Reputation onde trabalhei em projetos como o Google for Brazil (um evento anual onde o Google mostra as contribuições que têm feito para o país além de anunciar a chegada de novos produtos, features e serviços) e o projeto de Eleições, um dos trabalhos que mais me orgulho de ter feito. Junto com todo o time, criamos uma série de ativações para ajudar os brasileiros a tomarem uma decisão mais informada na hora de votar. As ativações foram desde um debate presidencial transmitido via YouTube com análises de Google Trends até um website onde ajudávamos os usuários a encontrarem mais informações sobre os candidatos, somado a outras ativações para combater fake news e promover o voto consciente. Em tempos políticos conturbados, fiquei feliz em contribuir de alguma forma em um projeto tão importante como esse.
Desde que entrei na área de publicidade eu sempre tive um desejo de ter uma experiência international onde eu pudesse conhecer uma nova cultura, aprender uma nova dinâmica de trabalho e desenvolver meu inglês. Tive a oportunidade de participar de duas experiências que eu considero incríveis: a APMM Trip e o rotation. Depois de 1 ano e meio na empresa, pude embarcar com um grupo de APMMs (Associate Product Marketing Managers) do mundo inteiro em uma viagem de 10 dias para o Japão e as Filipinas com o objetivo de aprender mais sobre a cultura do país e sobre o trabalho que o Google faz localmente. Foi inesquecível. Nunca me esqueço quando tive a oportunidade de sentar em uma mesa com pessoas de 5 países diferentes e trocar conhecimento.
A segunda experiência foi meu rotation: após 2 anos de trabalho no país de origem, eu pude aplicar para trabalhar em um outro país. Quando chegou o momento, conversei com minha família e decidimos aplicar para uma vaga no exterior. Após pesquisar bastante, conversar com managers de outros países e quase morrer de ansiedade meu destino foi finalmente definido: iria trabalhar no time de branding do Google em São Francisco na área de Storytelling. Fiquei extremamente feliz e com aquele friozinho na barriga. Fizemos todos os preparativos e nos mudamos para a Califórnia no final de 2018.
Os primeiros meses foram um deslumbre: cidade nova, casa nova, vida nova, móveis novos, time novo. Com o passar do tempo as responsabilidades no trabalho foram aumentando e a saudade de casa também. Tive o privilégio de cair em um time maravilhoso que sempre me apoiou desde o começo, e com a minha família, pudemos conhecer pessoas maravilhosas que nos fizeram sentir acolhidos nos Estados Unidos.
Em meu novo papel como Brand Marketing Manager no Google São Francisco, tinha como responsabilidade trabalhar com a produção e promoção de histórias da marca. Basicamente, histórias de pessoas ao redor do mundo que usam as tecnologias do dia-a-dia do Google para causar um impacto na sociedade e fazer coisas incríveis. Essas histórias são documentadas através de vídeo e/ou texto, e disponibilizadas no site Sobre da marca. Uma das partes que mais gosto nesse trabalho é poder ver as coisas incríveis que as pessoas são capazes de criar com tecnologia e poder compartilhar isso com o mundo a fim de inspirar ainda mais pessoas a fazerem o mesmo.
Eu estava super animado com meu novo papel na empresa, porém eu costumo dizer que esse foi o meu maior desafio profissional até agora, e um dos motivos que colaborou para isso foi o Inglês.
Quando visitei São Francisco pela primeira vez em Fevereiro de 2017 e conheci a Golden Gate Bridge eu fiquei encantado. Fiquei assombrado com a grandiosidade, beleza e a estrutura daquela ponte. Por isso eu costumo a dizer que o inglês foi a minha Golden Gate Bridge: uma coisa super incrível, mas assustadora de tão grande no início.
Encontrei dificuldade ao participar de reuniões, escrever e-mails, interagir socialmente e acompanhar o ritmo do trabalho. Eu sabia ler, escrever e falar inglês antes de começar na nova vaga, até porque já tive várias interações em inglês antes dessa experiência, mas havia algo no fato de estar presencialmente e trabalhando ativamente em outro país e em outra língua que tornava o processo ainda mais desafiador. Um email que eu escrevia em 3 minutos no Brasil, demorava o dobro para escrever nos EUA. A velocidade para processar algo era quase que instantânea no Brasil, porém alguns segundos a mais nos EUA (sem falar os momentos que davam tela azul total). Eu era literalmente o primeiro a chegar no trabalho e o último a sair. Dor de cabeça no final do dia, cansaço e aquele sentimento de frustração diária, muitas vezes se transformando em choros escondidos. Conversando com outros colegas que também fizeram a transição de país, descobri que tudo isso era extremamente normal e fazia parte do processo de amadurecimento da língua.
Eu sabia que precisava evoluir meu inglês para acompanhar o ritmo do trabalho, por isso tomei algumas decisões. Comecei a chegar 8:00 da manhã todos os dias e estudar inglês até as 9:00, contratei uma tutora para me ajudar com gramática e pronúncia, comecei a ler coisas em voz alta, ouvir mais podcasts, escrever mais e me colocar em mais situações sociais para melhorar a conversação. Todas essas coisas foram extremamente valiosas, mas não era a única solução. Eu sabia que tinha um outro fator que estava pesando muito na minha habilidade de falar melhor a língua: a parte mental / emocional.
Já haviam se passado alguns meses para mim, e eu sentia que nada tinha mudado desde quando eu cheguei. Me sentia fracassado, incapaz e atrasado. Nesse momento, minha saúde mental começou a decair, pois eu ficava constantemente tenso, preocupado e pra baixo. Encontrei forças em minha família, na meditação e decidi também procurar ajuda profissional. Através de indicações de amigos, comecei sessões de terapia e coaching com uma profissional muito boa que me guiou em vários processos de auto descoberta e me fez enxergar coisas que eu não estava vendo com clareza. Me fez entender a importância da vulnerabilidade e de que o meu valor não estava na minha performance, mas em quem eu era. Isso foi transformador e tem me ajudado a cada dia não só com o inglês, mas com minha vida como um todo.
Agora, depois de 2 anos morando e trabalhando nos EUA, eu olho para trás e vejo que essa jornada, apesar de extremamente desafiadora, foi super recompensadora. Meu inglês evoluiu bastante, as dores de cabeça quase que cessaram e ainda continuo no processo de aperfeiçoar meu inglês. Apesar de ainda não dominá-lo completamente, me sinto bem e aceito que o progresso acontece aos poucos, e que a jornada é tão importante quanto o objetivo final.
Durante esses quase 4 anos que estou no Google, tive a oportunidade de viver e aprender muitas coisas. Fiz um resumo de alguns pontos-chave, mas certamente outros posts irão se seguir com um aprofundamento maior em alguns tópicos que foram (e ainda são) super valiosos para mim.
A importância de se construir uma boa reputação: Tenho aprendido cada vez mais a importância de se fazer um bom trabalho por onde passa e deixar um legado positivo. Esse legado positivo me fez ter uma chance de entrar em uma das empresas mais desejadas do mundo e também me serviu de apoio quando eu estava enfrentando dificuldades com o inglês. Em uma época onde me sentia cansado e frustrado, fiz um post desabafo no Instagram/Facebook e fiquei extremamente feliz com o número de pessoas que demonstraram apoio através de comentários inspiradores. Pessoas que trabalhei durante toda a minha carreira e que me admiravam e torciam por mim. Sou grato por ter tido um impacto positivo em suas vidas e todas elas certamente também tiveram na minha.
Busque experiência internacional: Seja à distância, de curto, médio ou longo prazo. Existem várias formas de fazer isso. Você pode se conectar com pessoas de outros países e trocar experiências com elas. Se você trabalha em uma multinacional, você pode se envolver em projetos de outros países. Você pode estudar lá fora, pode bater papo com pessoas ou tentar cavar uma oportunidade trabalho em outro país. Para mim, uma experiência internacional, por menor que seja, é sempre valiosa e vai impactar sua vida para sempre.
Amplie seu conhecimento sempre que possível: Apesar de ter trabalhado a vida inteira como publicitário, busquei ampliar meu conhecimento quando decidi cursar Design e trabalhar com Marketing no Google. Todas são áreas relacionadas e complementares. Dentro da sua área de atuação, procure identificar aquelas coisas que são relacionadas e podem complementar seu trabalho também. Lembre-se: o conhecimento é o juros composto da curiosidade.
Foque na jornada e não no objetivo final: Alguns meses após chegar nos EUA eu sentia que não estava atingindo meu objetivo final que era dominar o inglês. Ainda estava encontrando muitas dificuldades e sentia que não tinha evoluído nada. Erro meu ao pensar assim. A jornada estava sendo (e ainda é) importante e a cada desafio enfrentado algo é construído em mim, apesar de às vezes essa construção parecer ser invisível. Quando paramos de tentar correr para chegar ao objetivo final e prestamos atenção na trajetória (identificando maneiras de torná-la mais prazerosa) uma hora ou outra o objetivo final acabará acontecendo por consequência da maneira como você trilhou o caminho.
Saúde mental é importante sim: Desde pequeno construí algo na minha cabeça de que para ter valor eu preciso performar. Para ter valor eu preciso alcançar as expectativas elevadas das pessoas. Quando me deparei com um dos maiores desafios profissionais da minha carreira, esse pensamento me corroeu e quase me levou a uma frustração profunda. Quando descobri que eu tenho valor sendo quem eu sou, quando descobri que ser vulnerável é algo bom, aliado a hábitos saudáveis de meditação e mindfulness, aqueles pensamentos negativos começaram a sumir da minha cabeça, e consegui focar nas coisas que realmente importam. Consegui enxergar com clareza. Sinto que esse processo de auto-descoberta e de cuidado para com a saúde mental é algo que todos precisam e devem experimentar.
E agora?
Esse post conclui a minha história profissional de 6 capítulos. Espero que você tenha aprendido algo e tenha o desejo de aplicar algum desses conhecimentos em sua vida. Cada pessoa tem uma história diferente e todas as histórias são valiosas e incríveis. Sei que você também está aprendendo inúmeras coisas em sua jornada e por favor, sinta-se à vontade em compartilhá-las comigo se desejar. Também quero aprender com você!
Meu futuro profissional ainda é incerto, mas tenho algumas ideias em mente de caminhos que gostaria de trilhar para o futuro. Por enquanto, sigo aprendendo e crescendo em minha vaga e time atual no Google São Francisco.
Se você gostou de saber mais sobre minha história, convido você a continuar acompanhando o blog e os futuros posts, que aprofundarão um pouco mais em alguns tópicos sobre os aprendizados que tive além de entrevistas com algumas pessoas super interessantes que fizeram parte da minha carreira profissional.
E aí, quais são os capítulos da sua história profissional?
Agradecimentos: Leonardo Pinto, Susana Ayarza, Rodrigo Alarcon, Maria Helena Marinho, Juliana Simão, Renato Kaufmann, Valdir Leme, Jimena Tomás, Luiz Guilherme Brandão, Kika Oncken, Marcella Campos, Rodrigo Maceira, Cristiano Fonseca, Esteban Walther, Nicolas Nespatti, Cecelia Cox, Kelly Littleton, Marina Agapakis, Nelly Kennedy, Rachelle Lacroix e Carol Morotti.
Neste último capítulo da série sobre minha trajetória profissional, saiba como fui parar no Google, como foi mudança para a Califórnia e os desafios de lidar com o Inglês.